Paradoxo democrático ou Democracia Paradoxal I
"Sistema político fundamentado no princípio de que a autoridade emana do povo (conjunto de cidadãos) e é exercida por ele ao investir o poder soberano através de eleições periódicas livres, e no princípio da distribuição equitativa do poder."
"Sociedade que garante a liberdade de associação e de expressão e na qual não existem distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários."
Este será o primeiro de alguns posts sobre democracia. Demos, povo, Kratos poder... Poder do Povo... Mas nós que pertencemos ao povo... Sentimos esse poder ou não? Quando alguém ataca a democracia, quem a defende acaba por usar um argumento pela negativa, "Preferem o que tínhamos antes?" e esta pergunta é universal, em qualquer país funciona. Daí surgir a frase " A democracia é o menos mau de todos os regimes políticos". Não é propriamente uma fonte de confiança...
Uma das perguntas que fiz aos franceses quando cheguei, foi sobre o "não" à constituição europeia. Quando perguntei porquê o "não" ganhou, estava à espera de algo na constituição com a qual uma grande generalidade dos franceses não concordásse. Mas não... a resposta geral foi o descontentamento dos franceses com o governo vingente. Foi um castigo, como nas autárquicas quando cai Guterres.
A questão aqui é: Seja qual for o assunto, as pessoas esquecem o privilégio que é poder decidir sobre o mesmo, e votam para mostrar que não estão contentes com a situação actual, os "cartões amarelos" como os analistas lhe chamam. Vejam... já é tão aceite que assim seja, que até um termo já existe para o definir.
Mas é errado... e ninguém diz isso a quem vota. Está tudo ocupado a dizer o que votar, mas ninguém ensina as pessoas a votar. Votar não é só fazer uma cruz e encontrar a ranhura na caixa preta. É uma decisão soberana que demorou cerca de 2500 desde que foi inventada até ser maioritária no planeta. Evoluiu até o que temos agora, e na minha opinião, ainda não chegou a metade do caminho.
As pessoas têm que pensar por elas próprias e tomar a decisão respeitante ao tema que é questionado. Informação deve ser disponibilizada e procurada por quem quer votar em consciência... As pessoas têm que pensar por elas.
A democracia só funciona na medida em que a sua decisão é soberana. O resultado de cada votação é posto em práctica. Já chegamos a esse estado de evolução. Mas só aqui começa a democracia a funcionar. O que está antes está repleto de carneirismo, de chico-espertismo e de orientação forçada.
Uma democracia está directamente relacionada ao povo que a practica. Se o povo não a respeita e não conhece os principios básicos, essa democracia não funciona. Não funciona numa perspectiva pessoal, pois caso as pessoas votássem em consciência os resultados seriam diferentes. E contra isso não pode haver discussão.
Mas... Muito importante. Apesar de achar isto, eu respeitarei sempre um resultado obtido democraticamente. Aceito tanto como aceito o resultado de alguém que faz uma coisa pela primeira vez. A melhor maneira de aprender e evoluir é a práctica. O facto de uma democracia não funcionar não é razão para se desistir... É sim razão para que se exponha os seus problemas e se ensine as pessoas... para que se providencie uma educação democrática a quem a quer usar no seu esplendor máximo. É deixar as pessoas aprenderem por elas, providenciando o que é necessário para essa aprendisagem.
Um acto democrático, seja qual forem as motivações de voto, é sempre um momento solene, em que todos somos iguais por um momento e a nossa opinião vale o mesmo, seja qual for a cor, raça, estatuto... É este o caminho, disso eu tenho a certeza, mas, também sei que irão ser precisos muitos anos até que uma democracia seja plena no seu significado, em todos os campos.
Uma democracia depende directamente de cada pessoa, já disse... enquanto as pessoas funcionarem como blocos acéfalos que seguem a demagogia e votam numa cor, símbolo ou pessoa para todos os assuntos indiscriminadamente, a própria definição de democracia não será respeitada. Pensar por cada um, é a melhor homenagem a fazer a um sistema político que nos inclui nas principais decisões do país onde vivemos. Devemos isso a quem lutou para que tivéssemos esse direito, e devemos isso a nós próprios.
Pensar não custa assim tanto.
2 comments:
Quando foi a última vez que reuniram toda a informação de todos os candidatos ou resposta a uma votação, e tiveram a certeza que onde votaram era o tipo com quem mais se identificavam?
Quando votaram em alguém... podem de certeza dizer que foi pelas suas ideias, e não pela cor do partido a que pertencia?
Já Alexandre Herculano, em meados do séc.XIX, nas suas cartas a Oliveira Martins apelidando-o ironicamente de "meu caro democrata" dizia que o voto "ignaro" é pôr as "fezes" da sociedade (maioria) a governar os esclarecidos (minoria)...para ele o problema só seria ultrapassado não só com informação mas sobretudo com "informação digerida" ou seja "cultura"... Ora isso, como ele dizia, só com tempo e reflexão critica se consegue... Achava ele que nos finais do séc. XX esse objéctivo seria alcançado... Se cá viesse agora ver como isto está... (um anónimo que mora no na Rua Dr Magalhães Lima)
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