Thursday, November 03, 2005

"A ave que fez Atchim" Uma epidemia à Dan Brown


Factos:

A "gripe das aves" é uma doença que todos os anos mata milhares de aves. Como todos os vírus, sofre mutações muito rapidamente, proporcionalmente ao seu tempo de vida. Existe, neste momento uma forma do vírus (H5N1) que pode passar de ave para o homem, em ambientes sanitários pobres. Essa forma de vírus já matou 65 pessoas e pensa-se que outras 100 possam estar infectadas. Não está provado que este vírus possa passar de homem para homem. Os especialistas dizem ser inevitável a mutação para uma forma que passe facilmente de homem para homem, podendo criar uma pandemia...

O medicamento "Tamiflu", patenteado pela empresa suiça Roche é o único que apresenta resultados no tratamento de humanos infectados com a estirpe H5N1 do vírus da Gripe das Aves.

Capítulo 1

O sol nasce na capoeira, e o galo não canta... Safran, um albino invisual que descende da tribo árabe Hassassin que mais tarde dá nome a uma droga leve, saboreia um bom frango assado. Ele sabe agora que o seu plano deu certo, e este será o seu último frango...

Capítulo 2

Infelizmente é a nossa realidade. A razão porque escrevo sobre este assunto, li à algum tempo que os decidores na matéria estavam a pensar abrir a patente da firma suiça, de maneira a tornar o Tamiflu acessível a mais pessoas.

Toda esta história da Gripe da Aves sempre me pareceu mais um romance de Dan Brown que outra coisa qualquer. Porque baseados nos factos, está-se a criar uma histeria geral, à volta de uma coisa que não existe (ainda se quiserem). O vírus não existe, não se sabe que forma terá, nem se sequer existerá. Está-se a criar formas de lutar contra uma coisa da qual não se tem conhecimento. Isto vai contra qualquer regra de livros de guerra.

O medo é justificável... no princípio do século passado, 1918, um virús com contornos semelhantes acabou por matar cerca de 50 a 100 milhões de pessoas em todo o mundo, na maior pandemia registada. Mas convínhamos, as condições de higiene eram muito diferentes, o conhecimento científico diminuto, e as ferramentas científicas nada comparáveis aos dias de hoje.

Como combater uma coisa que não se conhece? Prevenção diria eu. A principal fatia de prevenção, neste caso, é investigação. Se me disserem que o Tamiflu tem 100% de hipóteses de curar qualquer estirpe proveniente da Gripe das Aves, OK... por mim força. Abram a patente e disponibilizem o Tamiflu ao mundo inteiro. Mas estamos bastante longe dos 100%, aliás nem temos números, pois não fazemos nenhuma ideia do que possa surgir.

Num artigo de jornal, um tipo faz as seguintes previsões sobre a abertura da patente:

1. A base do Tamiflu é uma planta chinesa. Esta planta está a rarear pois a procura é maior que a produção. Ou seja, sem intervir num aumento de produção da planta, a abertura da patente vai resultar em zero.

2. O processo de fabrico do Tamiflu é complicado. Uma possível abertura da patente resultaria no facto da Roche esconder o seu Know-How específico e deixar os outros produtores sem qualquer apoio a este nível. O tipo aqui diz que se deveria estimular a maior produção dos Suiços, abrindo licenças de produção a outras empresas, mas sempre dentro do processo Roche e com a supervisão destes.

Eu a isto acrescento, no ponto 1, a inflacção do preço do medicamento, não dando qualquer hipótese aos mais pobres de o adquirirem. E um terceiro ponto que é o facto do dinheiro gasto na abertura da patente, poder ir para investigação, propiciando uma solução de maior espectro. Além disso, com a abertura da patente, os países vão obter o seu stock milionário deste medicamento, e de certeza negligenciar o mais importante, que é a investigação.

Além disso... Pensem que o Tamiflu até é eficaz. Quem nos garante que no ano seguinte não surge uma estirpe resistente a este medicamento? Isto é bem possível, o vírus da gripe normal... vejam, onde é que isto pode parar? Eu acabo de vos apresentar um cenário exactamente igual ao que temos agora, baseado nas mesmas premissas, só que já se gastou a única pseudo-esperança. Claramente a solução deste problema não pode seguir um só medicamento.

A solução para este problema tem que ser preventiva e adaptativa, pois o esprectro da ameaça é grande. Produzir em massa algo que não se sabe ser eficaz, parece-me bastante pouco inteligente. E, se querem que vos diga, existem, neste momento, doenças bem piores ligadas à falta de higiene, nos países pobres, e de certeza nem 1% do investimento feito sobre a Gripe das Aves está a ser dado. Morrem 3 milhões de diarreia todos os anos nos países pobres... Diarreia.

O medo é irracional, mas a resposta não tem que ser. O que para mim falta nesta história, assim como quem defende as histórias de Dan Brown como sendo a realidade, e não a História como chegou aos nossos dias, é uma grande dose de Bom Senso.

1 comment:

Anonymous said...

Desta vez 100% de acordo, mas só desta vez!!! Não te habitues! Bjinho