Thursday, January 19, 2006

Birra e as regras linguísticas



Tenho duas birras, daquelas que todos me dizem serem ridículas, mas que ninguém me convenceu estarem erradas. Uma é a da bandeira, já falada aqui, a outra tem a haver com as regras de linguística.

Os meus pressupostos são os seguintes:

É facto aceite pela comunidade científica, que o que levou ao aumento do nosso cérebro, e à chegada ao estado de hoje, pela evolução, foi o facto de vivermos em sociedade. O segundo animal mais inteligente da Terra, segundo os cientistas, é um macaco que vive na Etiópia, em comunidades de 200 a 300 indíviduos, sendo a espécie que possui o segundo maior cérebro funcional.

Para os cientistas sim, para mim é o golfinho. Sómente pelo facto que, tal como o Homem, também tem sexo por prazer, num esfregar de barrigas intenso. Ora, isto é Evolução.

O segundo pressuposto é que a linguagem, e a comunicação, são os principais motores da vida em sociedade. Como todos os padrões a ser utilizados por uma sociedade, tem que ter as suas regras.

O que eu defendo é que há regras e regras. O que nos faz evoluir não é o uso correcto da linguagem, segundo as suas mais ínfimas regras, mas sim, o conteúdo de cada comunicação. Eu valorizo o entendimento, relativamente à boa aplicação de todas as regras de linguagem.

Eu defendo que todas as regras devem ser do conhecimento da pessoa, mas, na sua totalidade, apenas usadas em ocasiões, que a própria ache que devem ser aplicadas. É isso que se passa com o calão e asneiras. Quando o diálogo é leve, quase todas as pessoas as usam, no entanto, em frente a um professor ninguém as vai utilizar como forma de expressão.

Tenho lido vários artigos de opinião sobre a decadência da língua, os míudos no messenger... Eu, quando escrevo no messenger, meu salvador da solidão, não me preocupo se está ou não bem escrito, apenas quero ter uma conversa com alguém. Preocupo-me que me entenda, o principal numa conversa.

Imaginem que o entendimento só existia a partir do cumprimento total das regras.

"Então, tás bom?"
"Desculpe, tem que falar correctamente, senão eu não entendo."

Quando cheguei a França, vinha com 5 anos de Francês, do quinto ao nono ano. Passaram 10 anos desde a minha última lição de Francês, e, como podem adivinhar, nem eu sei quantas argolas conheceram o meu pé no seu interior. E os franceses são uns tipos lixados com a língua, ou Francês ou silêncio. Se o entendimento não se tivesse sobreposto às boas regras, eu já não estaria aqui.

A língua é uma expressão cultural de um povo, faz parte da sua marca no mundo. Todos temos muito orgulho no nosso Português, a quinta língua mais falada no mundo. Agora, a utilização das suas regras a fundo, ou não, deve ser feita mediante a ocasião. A preocupação pelo conteúdo deveria ser muito maior.

Também o julgamento deve ser feito tendo em conta a situação. E julgamentos fazem-se sempre, por mais que pensem que não. Eu percebo um professor ou um progenitor corrigir, mas se um amigo me corrigisse, apenas me faria calar, e nenhum de nós iria aproveitar o que a conversa nos teria a dar.

Quando escrevo no blog tenho algum cuidado...dentro dos meus conhecimentos, para mim é uma situação na qual, se deveriam usar todas e mais algumas regras, porque sou eu por escrito.

O que as pessoas me dizem é, se eu defendo o conhecimento das regras, porque não utilizá-las em todas as comunicações. A minha resposta, é que na Natureza do Homem o facilitismo é dominador, naturalmente, também o vai ser nas suas comunicações. E se o resultado final é melhor, facilitanto a linguagem, não se perde tempo a pensar na regra x, ou não se cala por vergonha de não conhecer as regras, então facilite-se, pois o entendimento impõe-se à boa aplicação de todas as regras.

A comunicação entre duas pessoas é algo nobre, perder isso por estar com atenção à boa utilização, ou não, de todas as regras, é como chegar atrasado a um encontro com o amor da nossa vida, por estar à procura de uma passadeira para atravessar a estrada.



A foto foi o mais parecido com uma birra que encontrei... E afinal, o dedo é uma forma de comunicação como outra qualquer.

8 comments:

A. said...

Olha, pois eu acho muito mal, que se existem regras é para serem cumpridas, aliás eu nunca jamais em tempo algum utilizo liberdade de discurso nem regras próprias na escrita do meu blog. Tudo segundo a gramática portuguesa! ;)

Agora a sério, há uma coisa em que acredito: é preciso sabê-las para as poder desrespeitar.

Uso frequentemente palavras ou expressões inventadas, adjectivos que são compostos de frases, uma série de estilos que vão contra todas as regras mas que me permitem maior liberdade linguística, mas só, e só porque sei escrever segundo as regras e se quiser sei fazê-lo bem (eu sei que nunca reparaste nisto porque nunca falei/escrevi formalmente contigo). E isso é muito importante.

E agora vê lá se me respondes que isto de vir fazer comentários para o boneco é uma grandessíssima seca!

NoKas said...

1. Inteligência - bem, seja qual for o conceito de inteligência que estejas para aí a pensar, eu pelo menos não considero que os macaquitos tenham pouca. Ora bem, mmmm por exemplo. E pegando no exemplo do sexo. Há grupos de chimpanzés onde o sexo é usado como uma forma intensa de socialização. Quando chega um novo membro ao grupo, ou vindo de uma população vizinha, todos os indivíduos têm ou simulam sexo com ele, para que este se sinta à vontade, bem recebido e não ameaçado. Hein, era bom não era? E isto tanto faz ser fêmea ou macho! nesta sociedade todos têm sexo com todos, e usam inclusivamente objectos inanimados para se masturbarem. Espero que esta linguagem não choque os teus leitores, a mim não me choca nada pensar ou falar disto. Eu acho que a espécie humana (isto é uma opinião controversa em termos científicos) naõ é a única capaz de sentir e expressar emoções. Os hominídeos (macacos, chimpanzés, gorilas, etc) estão-nos muito próximos e é muito fácil identificar emoções neles. Temos que ter o cuidado de perceber que visto que o seu contexto cultural é difenrente (sim, também lhes atribuo cultura) o tipo de emoções nem sempre são directamente interpretáveis. Mas isto também se aplica a outros grupos de animais, inclusivamente aos cetáceos, logo, aos simpáticos golfinhos! Que apesar de os acharmos kridinhos, são muitas vezes animais violentos, territoriais, agressivos e tudo menos amorosos. E sim, também os acho "espertos". Aliás, porque estes também têm cultura, linguagem e... quem sabe, emoções! Quando a raça humana estiver preparada para aceitar que não somos o expoente máximo da evolução, talvez estes temas deixem de ser tão controversos em algumas mentes como têm vindo a ser considerados até aqui.


Em relação à linguagem, não podia concordar mais contigo. Aborrece-me o facto de se irritarem comigo porque escrevo abreviaturas nos emails, ou nos sms! Caramba!!!! E pq não? Se fosse uma carta formal eu não o faria! Mas sendo informal qual é o problema? E não, eu não aprendi a escrever por simbolismos na internet (nem no mirc, nem no MSN), e muito menos devido ao uso dos telemóveis. Foi antes na faculdade, quando tinha que escrever em tempo real o que os profs despejavam de matéria! E desde essa altura nunca mais parei! ;)

Ju said...

Ó manel... tens que encurtar os posts que isto demora muito tempo a ler e uma pessoa tem que trabalhar. Faz o que quiseres com a linguagem, mas já percebi que por escrito és correcto e, falado és uma amalgama de português ocioso. Um dia terei que falar ctg pa verificar esta hipótese.
És um fã dos golfinhos, mas ao menos és pelas razões correctas... ;)
Gostava de ler a tua birra da bandeira... Ela anda por este blog?

Manandre said...

Ou seja, tu acabas por usar a fuga às regras como forma de comunicação, para dar mais ênfase a algo, ou ridicularizar... Valorizas mais expressar a ideia do que seguir as regras... É exactamente isso quero mostrar...

Adorei a ideia dos macaquinhos simularem sexo para fazer um recém-chegado sentir-se bem... É um conceito de "boas-vindas" mais inteligente que os nossos.

Acabei de ler num blog... um tipo dizia que ia desistir de ser intelectual porque sempre que lia algum post de um intelectual, a capacidade de síntese, e a informação transmitida era tremenda... e dizia que ele não tinha essa capacidade... Pretensões à parte, eu também não.

O comentário mais giro recebi por email. Dizia: "Mas já não é assim?" De facto é... mas de uma forma não consciente, e quando se repara no desrespeito, corta-se a conversa e julga-se a pessoa... Eu quis mostrar que essa não é a melhor via.

Grande Luna, mais uma vez parabéns, a possibilidade de vir a ser doutora, recebe sempre os meus parabéns.

A. said...

Ainda está na fase de "If" my darling. E os ses nem sempre passam disso. Nada de pôr o carro à frente dos bois. Bisoux (é assim?)

Metelo said...

Tens toda a razão quando enfatizas a importância da mensagem em detrimento da sua forma... O problema é quando a mensagem fica de algum modo adulterada ou quando simplesmente tropeças na gramática e ficas com algo a ecoar na cabeça que se sobrepões à mensagem inicial. Exemplos são o velhinho "há-des" ou os mais recentes "à ver" e "à séria", que me fazem cá uma espécie... ;)

Abraço, malandro

Manandre said...

O Portuguez é um amigo, de opiniões e argumentações fortes. Está descansado, agora que vens para Lyon passar uma temporada, já pedi à Associação de Terceira Idade de Lyon, para te organizar uma festa de boas vindas eheh.

Abraço

NoKas said...

antes "nao-intelectual" do que "pseudo-intelectual"! :p

e ja agora: boa sorte "portuguez"! aposto q a tua festa sera um sucesso!