Pseudo-Intelectual
Imagem daqui
Proponho-vos fazer a descrição desse animal, o pseudo-intelectual. Vamos um bocado mais longe do que a aparência física, preconceitos de imagem, apesar de inevitáveis, têm o condão de nos tornar cegos ao que realmente é importante.
O adjectivo "pseudo-intelectual" é muitas vezes utilizado injustamente. Quando alguém mostra conhecer alguma coisa, que foge ao conhecimento dos demais, é por vezes catalogado de pseudo-intelectual. O que deve resultar de conhecimento adquirido é a procura de aprofundar ou validar esse conhecimento. A curiosidade deveria ser o motor da nossa existência.
A primeira vez que identifiquei realmente o que era um pseudo-intelectual, foi aquando da estreia do filme "Branca de Neve" de João César Monteiro. Depois de várias pessoas visualizarem a estreia do filme, houve entrevistas à saída, e naturalmente, deram a sua opinião negativa. Mas houve aqueles que, muito entusiasticamente, diziam, "Esta é a melhor maneira de representar as obras de Marie-Louise Audiberti." (Penso que seja dela). "Genial", "Obra de arte"... É de conhecimento geral que o levou à "melhor representação possível" foi um acesso de mau humor... Outro exemplo:
Fui ver uma exposição de Pintura contemporânea com alguns colegas do trabalho. A tipa que estava a organizar dizia, este tipo tem quadros caríssimos, ganhou isto, aquilo... um desenrolar de elogios tremendos... Ora, tenho que vos dizer, eu sou um racionalista nato, daqueles que nunca vai deixar de ser, porque sempre que me abstraio de algo, penso logo qual será a razão da abstracção. A única arte que consigo não-racionalizar é a música (nunca me perguntei porquê veio o dó depois do ré, por exemplo).
Sempre que vou ver um museu, ou exposição de alguém, lá vou eu à procura do folheto explicativo de cada quadro, o que o artista quis dizer quando pintou o quadro. Só racionalizando o que é suposto o quadro dizer, é que consigo apreciá-lo e ter uma opinião. Para mim, tem que haver uma razão para a pintura estar feita de certa maneira, tenho que primeiro saber o que é suposto o quadro transmitir-me, e depois ver se realmente é isso que sinto.
Eu, e mais alguns com os nossos folhetos, íamos ouvindo a tipa que tinha organizado...e sem folheto... Dou-vos o mais gritante "...aqui ele quer mostrar a importância da Natureza na nossa vida, o facto de acabarmos com ela, o impacto negativo na sua vida... Genial"... Nome e descrição do quadro: "A Amizade da Lua - O artista mostra e aponta ao mundo a sua única fonte de verdadeira de amizade, num mundo coberto de cinismo..."
O pseudo-intelectual tem a tendência de olhar artistas, cuja genialidade foge aos comuns, e baseado nas críticas de outros, elogia esses mesmos, rebaixando os outros, que, simplesmente falham em entender. Procura destacar-se dos demais fingindo ter um grande sentido de crítico artístico, quando na realidade é exactamente igual aos que desdenha.
O que o pseudo-intelectual falha em entender, é que este processo é exactamente igual às modas em geral. Vê-se alguém importante e giro, numa revista, com uns sapatos y, apesar de serem horríveis, e passam a ser giríssimos e toda a gente os usa, porque a tipa ou tipo importante, acha que são giros, ou simplemente... porque toda a gente usa. A diferença é que onde o pseudo-intelectual procura os seus "role-models", normalmente não tem projecção mediática ou veículos de transporte para a população em geral.
O pseudo-intelectual acaba por fazer, é o que mais desdenha, o processo de tornar "main stream" um produto ou artista.
O pseudo-intelectual surge da eterna necessidade de nos sentir-mos diferentes de todos, e superiores também, misturada com a preguiça mental de fazer o trabalho necessário para atingir essa diferença. Assim vai atrás de palavras de outros, não criticando nada. E digo-vos, foi triste ver a tipa com quem trabalho, ou as pessoas entrevistadas, fazerem aquela figura.
Pseudo-Intelectualismo não é mais que um canal de transmissão de críticas de uns para os outros, sem qualquer acrescendo útil de quem o transmite. O Intelectual conjuga várias informações de vários lados, recebidas involuntariamente e procuradas pelo próprio, e formula, através do seu próprio raciocínio, uma opinião, que será obrigatoriamente, original e única.
É a diferença entre ouvir e pensar, e ouvir e debitar.
3 comments:
Já tive para escrever algo do género, mas sobre o snobismo intelectual, mas acabei por ter preguiça. Os meus melhores textos nunca saem da minha cabeça para o papel.
Pseudo-intelectual é aquele que vai à culturgest ver um filme em chinês sem legendas só porque é alternativo e no fim ainda diz que foi dos mais marcantes da sua vida! Não há pachorra!
Yap!
eh eh eh... eu consigo, eu consigo... mas... tirando os óculos, vestindo uma T-shirt branca... quase, quase que consigo ver alguém... quem será? ...Não, não posso, eu prometi... :)
Brincadeira, que eu sei que tu pelo menos folheias os livros e não és contra o mundo ocidental (a julgar pelos magníficos hambúrgueres do Mac) ,)
Sempre foi assim… quem mais quer mostrar é quem menos tem para dar!
Kiss, Inês
Post a Comment