Tenho pena que tenha ganho à primeira volta. Seria engraçado ver a cara de Sócrates a dizer ao partido, que na segunda volta, teriam que votar em Alegre.

Quanto a Cavaco, não há grandes comentários a fazer. É o Presidente natural para a nossa República. Nada que dissesse seria original. Quanto a quem perdeu, Louça e Sócrates.

Louça pela força dos números, mas principalmente, porque ficou bem atrás de Jerónimo, que é o seu único objectivo atingível. Este resultado tem que ser pensado principalmente pelo BE. Receio que o efeito que a saída de Paulo Portas teve no PP, se repita no outro extremo da orientação política Portuguesa, caso Louça alguma vez saia. A polarização pessoal de Louça nestas eleições foi incrível, mas a sensação que fica é que foi o partido obter os resultados.

O peso da derrota transfere-se todo de Soares para Sócrates, quem fabricou a candidatura. Alegre teve a votação que teve, não pelo saudosismo da luta anti-fascista, ou pela sua ideologia de 25 Abril, mas sim porque o governo foi penalizado pela sua governação. A maneira arrogante como trata a função pública, fazendo-os culpados de toda a situação económica do país, teve os seus dividendos. É certo que os privilégios tinham que acabar, mas quem governa a acusar, vai acabar por morrer pela boca.

Tipicamente, quem votou Alegre foi o eleitorado PS, descontente com o governo. Da larga maioria das legislativas, restam 14% ao PS de Sócrates. Esta é a visão pragmática dos resultados, e o principal dado fornecido por estas eleições ao panorama político Português.

Mas a principal derrota de Sócrates, é já depois dos resultados anunciados, quando ele se mostra como realmente é. O facto de falar por cima de Alegre, dá uma imagem pobre de quem nos governa, sem qualquer respeito pelo adversário, que foi a melhor representação do centro esquerda e é militante do seu partido.

O nosso primeiro é uma criança, daquelas irritantes que tem que dar nas vistas, e quando é contrariado faz biquinho. Espero que Sócrates aprenda com a palmada que lhe foi dada pelo povo Português.

Uma menção honrosa para Jerónimo, o perfil perfeito para a presidência do seu partido, e a razão pela qual o PCP pós-Cunhal / Carvalhas sobrevive com a mesma performance.

Apesar de Sócrates se mostrar deste modo, isso não implica más medidas, ou má política, no que realmente interessa. O país tem agora um governo centro-esquerda de maioria, equilíbrio de poderes com um presidente centro-direita, e uma oposição responsável liderada por Marques Mendes. Espero que agora seja sempre a subir, porque se esticarmos os pés, tocamos no fundo.