Wednesday, May 31, 2006

Civilizações diferentes, ou talvez não


Como sempre o por tintim não mora aqui, mas a transmissão do mais importante está garantida. Pensem como sendo uma auto-biografia auditiva romanceada da conversa deste vosso com a iraniana de quem vos falei.

1:“A relação entre democracia e religião?”

2: “Eu não sou religiosa. Eu e os meus amigos não somos religiosos, pelo que não te posso dar a visão religiosa do ponto de vista pessoal. Os nossos líderes dizem que num estado muçulmano a democracia como sistema de governo não pode existir, apesar de sermos um estado democrático soberano.” (A palavra de Deus é lei, ou a interpretação de quem está no poder faz dela.)

1: “Mas o vosso líder político é também líder religioso?”

2: “Sim, mas a palavra líder, no que diz respeito à religião não se aplica. Há muitos outros que são seguidos. Ele é apenas mais um, e a sua interpretação(do Corão) pode ser seguida pela população, mas penso que ele esteja longe de ser o principal.”

1: “Então todas as coisas que ele diz, misturando política e religião, podem não ser interpretadas como a opinião da população?”

2: “Eu vejo aqui na Europa, que quando as pessoas sentem algo mal, vão para a rua, demonstram a sua opinião, e muitas vezes fazem as coisas mudar. O nosso problema é que todos esperam que alguém faça algo para que se mude. Enquanto todos esperam, quem tem força e algum apoio popular leva à sua avante.”

1: “Por exemplo, na Arábia Saudita, não é permitida Internet ou canais exteriores à população. No Irão não é nada assim, têm satélite, Internet… noutro dia vi uma data de tipas num ginásio a fazer aeróbica, de véu na cabeça numa pequena aldeia, nem era em Teerão. São considerado o país muçulmano mais ocidentalizado. A população jovem está informada. E tu és um exemplo.”

2: "O que te digo… por exemplo há cafés em que se diz, “mulheres não podem fumar”, na rua não nos permitem fumar, e isso não vem no Corão. Eu no Irão tenho que usar o véu, mas pelo menos sei que a minha mente é livre, ninguém manda naquilo que penso.” (Acreditem, esta última frase não está romanceada, o orgulho com que falou marcou-me bem as suas palavras).

1: “E como vês a situação actual da comunidade internacional?”

2: "O que te posso dizer é que o nosso líder o que tem de bonito(estética, religião e política são as chaves mestras do sucesso) também tem de teimoso. Mas eu estou segura que se sentir o poder ameaçado, ele desiste. Se sentir que perde o poder político por tentar levar a sua avante, ele desiste.”

A inactividade cívica foi o que me custou mais saber. Pelo paralelo traçado.

Espero que sintam a marcada diferença entre o Irão e o exemplo Iraquiano. Senti que poderia estar a falar com qualquer um de vós, confrontados com a mesma situação.

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