A Catástrofe da Ilha de Páscoa
Lendo a “Breve História do Progresso” de Richard Wright um medo de nós próprios aparece com a consciência da repetição dos mesmos erros praticados pelas civilizações que nos precederam. A aprendizagem com os erros do passado funciona com o indivíduo, mas falha completamente quando do conjunto se trata. As armadilhas do progresso, como lhe chama o autor, estão à vista da sociedade e esta tem sido continuamente alertada para o que vai suceder se o estilo de vida ocidental não for alterado. E reparem, mesmo o adjectivo ocidental já não pode ser utilizado, quando temos a China, a Índia e mais tarde os países africanos a desenvolverem-se para terem o mesmo que nós já tivemos durante um século.
Apesar da motivação religiosa, a catástrofe da Ilha de Páscoa é paralela à direcção na qual vamos neste momento. Vejam a história, que é apresentada cientificamente provada no livro, em termos absolutos, isto é, se conseguem ver a nossa sociedade a fazer o mesmo, mesmo que por motivações diferentes.
A Ilha da Páscoa foi povoada no século V d.C, por migrantes das Marquesas ou Gambiers, que levaram consigo várias culturas, animais domésticos entre os quais uma espécie de rato comestível. As condições eram boas, e durante cinco ou seis séculos a população subiu até perto dos dez mil, demais para os seus 166 metros quadrados. Tal como os povos polinésios começaram a adorar os espíritos dos seus antepassados na forma de ídolos de pedra. Eram cortadas de pedra vulcânica, postas em plataformas e trazidas até à costa.
De ano para ano, o tamanho e a extravagância das estátuas foi aumentando, exigindo mais madeira, corda, força de braços, tendo chegado a um limite difícil de compreender para a nossa mentalidade. A folia religiosa levou a que o ritmo a que eram cortadas as árvores fosse muito superior ao seu ritmo do crescimento. Os ilhéus não se preocuparam com plantar, manter a floresta, os ratos domésticos comiam as poucas sementes existentes. Pelo ênfase dado pelo autor… Quem cortou a última árvore, viu e sabia que era a última. E mesmo assim cortou-a. Sabia bem que não haveriam mais depois.
Quando em 1722 o comandante Cook chegou à Ilha da Páscoa, encontrou um conjunto de dunas estéreis, desgastadas pela erosão, povoadas pelas estátuas que têm no vosso imaginário, algumas com nove metros de altura. Os ilhéus faziam as suas canoas atando a madeira que dava à costa. Foram classificadas por Cook, as piores canoas do Pacifico. Não havia madeira na ilha.
Quando vos peço para verem em termos absolutos, é sentirem o gasto de um recurso vital não havendo a preocupação em preservar a sua existência, ou na sua substituição. No nosso caso, nem temos os antepassados para nos fazerem sentir culpados. É somente o nosso dia-a-dia.
Da maneira como olho este pedaço do passado, não irá haver muita diferença entre a última árvore e a última gota de petróleo. Como o autor identifica, a catástrofe da Ilha da Páscoa foi o Homem.
No comments:
Post a Comment