Tallin as ideias
As marcas do passado estão bem patentes em Tallin. Fora do centro há prédios a cair, antigas fábricas que já não são utilizadas, o dinheiro não abunda. No centro, a sensação que se está numa futura Praga está presente em cada canto vazio, pronto a ser ocupado por uma banca de vendas turísticas. A primeira, e em boa razão, a única desilusão é o adjectivo medieval. Não se trata de construções em madeira, arderam no século XVIII, apenas as construções em pedra sobreviveram.
A boa surpresa é a simpatia das pessoas. Nos Açores a opinião é unânime quanto à ilha menos bonita, a Terceira. Mas também é unânime que são dessa ilha as pessoas mais simpáticas do arquipélago. Um tipo de beleza interior diziam-me. O paralelo com Tallin é claro para mim. É impossível não ser recebido de sorriso, tirando claro, no serviço dos restaurantes, por maior sorriso que tenham, não apagam a meia hora que se está à espera para anotar o pedido.
Ter guias locais levou-nos a viajar para fora de Tallin. Passeio na natureza, finalmente percebi o que “mushes” quer dizer no “Hound of the Baskervilles”. Numa etapa do passeio passeávamos no meio de um campo cheio de crateras. Explicavam que era o ponto de ensaios para os militares estónios. Quando lhes disse que em Portugal não iríamos gastar bombas com ensaios, atirava-se um calhau e alguém escondido gritaria “BUM”, a resposta foi, “pois, mas vocês não têm a Rússia a fazer fronteira.”
Cerca de 15% da população da Estónia é Russa. As comunidades mantêm-se separadas, quase não há casamentos entre elas. O gueto de Tallin, é habitado quase só por Russos. As condições são más, mas os preços das casas altos, porque a procura Russa é bastante alta, preferem viver junto da comunidade. É facilmente perceptível que as contas não estão ajustadas entre os dois países, o ressentimento Estónio é profundo e o medo de voltar à situação antiga convive diariamente com a população.
Um exemplo, os portos Russos não têm capacidade para expedir todo o petróleo. Vi o maior comboio da minha vida. Um enorme que atravessava perto de Tallin, uma ponte sobre a auto-estrada. Isto é pago pelos Russos, que numa crise não terão problemas em ocupar o país e apoiados pelos 15% que já fazem habitam o país.
O interior da igreja ortodoxa é algo que nos surpreende pela novidade, pela riqueza. O palácio da czarina deixa um perfume de classe nos olhos de todos, o centro da cidade é activo de dia, noite e no lusco-fusco. Os preços no centro são altos, mas basta sair do raio para que baixem vertiginosamente.
É, tal como todas as cidades seriam no mesmo caso, uma cidade descaracterizada. Construções novas invadem bairros velhos, telhados novos e velhos coabitam ao lado uns dos outros. Vê-se o bom de ter sido considerada património da humanidade pela UNESCO. Sem rio, mas com o mar ao pé, para quem não se interessa pelo antes, meio e depois, será um destino a não falhar dentro de uns anos.
A herança Russa vai rapidamente desaparecer. A não ser a ortodoxia da cidade. E isso não deixa de ser um paradoxo fascinante.
1 comment:
Bem Man, que grandes aventuras!
Pela tua descrição Tallin faz-me lembrar uma terrinha ali na serra dos candeeiros chamada Moita Do Poço, conheces?
Também tem muitas casinhas de pedra, muitos buracos (não provocados por bombas mas porque o alcatrão está em mau estado), faz fronteira não com a Russia mas com o casal de Guerra ... e segundo consta as pessoas também são bem simpáticas, principalmente os membros de uma grande família de apelido Loureiro Pinto!!!
Muitas Bjocas e aproveita bem as tuas viagens!
ciao Primaço
Pinto75
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