Wednesday, September 13, 2006

Durante uma conversa com quem te conhece melhor


E valeu a pena teres ido para França? Tens o blá da experiência profissional pronto. Mas em termos pessoais? Dizes que só quando fores mais velho podes saber. Que não vale a pena pensar nisso. A tua filosofia é fazer do agora o melhor possível. Sempre foste bom em dogmas. Ela apanhou-te. Sempre te apanhou.

Desligas. Acabas de saber que tens tudo para ser um bom esotérico. Um dogma é uma ponte sobre o precipício. Mecanização humana para continuares a tua vida do outro lado. Para não perderes tempo com perguntas que não têm resposta. Arranjas conforto nas Constantes marteladas nos modelos científicos. Todas funcionavam para explicar o mundo, mesmo sem saberem donde vinham. Os tipos não se preocupavam em deduzi-las, sabiam apenas que funcionavam aplicando o modelo com 100% de infalibilidade ao que observavam. Também eles eram dogmáticos. Neo-dogmáticos.

Cá está. Inventas-te uma palavra para te sentires bem. Mia Couto também o faz. Mas esse é porque o vocabulário não chega para o que tem a contar. Tu é porque não tens resposta que te satisfaça no vocabulário que conheces. Acabaste de acompanhar Gonçalo Cadilhe numa caminhada de uma hora em que o tipo se questiona sobre a vida que leva. Perante a visão a alta altitude de uns blocos de pedra sul-americanos incendiados pelo nascer do sol ele encontra a sua resposta. Vale a pena diz ele.

Hoje foste ver a bola com um francês. O tipo está de passagem, volta para Paris daqui a duas semanas. Desinteressaram-se do jogo e ficaram nas ruas de Vieux Lyon a conversar. Ficaste a saber mais do que sabias antes. Vale a pena dizes tu. Ser ou não dogmático perdeu a importância.

Além disso todas as Constantes foram deduzidas depois. Estavam certas.

1 comment:

Anonymous said...

Na minha opinião vale sempre a pena,se após o momento tivermos conseguido beber toda a essência do dito, se realmente aprendemos e apreendemos alguma coisa na/com a cultura dos outros povos, ou no caso do G.Cadilhe, através do momento que viveu após uma longa caminhada que lhe parecia interminável! Das coisinhas melhores que levamos da Vida é viajar, não é o melhor telemovel, o melhor carro, a melhor roupa, a melhor e maior casa! Agora poderia ir por aí fora à parva com um sem número de exemplos! Se para ti valeu a pena esta ausência? Visto de fora parece que sim, mas o cansaço e a saudade não perdoam, não é?