Monday, September 18, 2006

Sarkozy o representante do subconsciente Francês




Sarkozy preocupa-me. A França e Sarkozy preocupam-me. “Os franceses que trabalham devem ser recompensados” ou “quem é explica aos franceses que pais ilegais, só por terem uma criança na escola, possam ficar a usufruir da sociedade francesa sem pertencerem legalmente a ela”. Foi o socialismo francês que lhes abriu as portas de uma educação, mesmo ilegais. Todas as crianças tinham direito a educação. Já não têm.

Se a primeira é uma verdade de La Palice, a segunda é mais grave. Os polícias vão às escolas ver se as crianças têm papéis. É mais fácil apanhar os pais. As crianças são expulsas para um país que nunca viram. Os pais para um que nunca mais queriam ver.

Mas o que me preocupa mais são os franceses. Os primeiros a saltarem em defesa dos valores da revolução. Mas começa na boca, não na cabeça. Não é assim que eles pensam. Os 14 anos de socialismo, o sistema de segurança social francês e a boa integração das outras comunidades imigrantes fá-los pensar de maneira diferente.

A revolta social árabe é vista nos carros queimados, na violência contra a polícia. A francesa nos postos de trabalho dado a franceses, naquele lugar fora da sociedade para onde empurram os árabes. É uma descriminação silenciosa. Daquela contra a qual não se lutar. Politicamente correctos sempre, os antepassados não perdoariam. Mas no interior, uma revolta constante e a sensação da justiça ter sido esquecida. O problema árabe e da imigração clandestina, à primeira vista sem ligação, tornam-se na cabeça francesa, um mesmo. A acção possível.



E a justiça foi mesmo esquecida. Para os dois lados. E neste contexto qualquer Lapalissada se torna slogan. Não há é nenhum candidato árabe para dizer as dele. Foi assim com Le Penn. 20% de franceses foram de extrema direita. Foi assim com “não” à constituição europeia. Vai ser assim com Sarkozy. O demagogo mais inteligente que já vi.

O que vejo em França enche-me de dúvidas. Tem todos razão. E todos estão errados. Como a segunda é mais complicada de se ver, atacam-se uns aos outros. Imaginem um Paulo Portas mas a sério. É assim Sarkozy. Representante do subconsciente francês.

Este fim-de-semana parisiense, Miguel dizia-me que a França não uma democracia, mas uma manifestocracia. Quando Le Penn foi à segunda volta das presidenciais, houve logo manifestações. Os franceses não são nazis. Não são, não. Apenas vivem na contradição de não sentirem aquilo em que acreditam.

1 comment:

São Domingos said...

"(...)Um Portas a sério(...)"... Claro que tinha de começar por aqui, apesar de hoje em dia (espero) saberes que a minha realação com o Portas foi apenas uma catalogação vossa daquilo que pensavam que eu era políticamente (reitero, espero que essa imagem tenha mudado).

O caso francês é muito complicado e tu melhor que muitos outros deve saber a bomba que está ainda por rebentar no coração da Europa. Mais do que o Alargamento da UE e o problema do Terrorismo, o grande desafio da Europa é a Integração... Na realidade os 3 problemas são 1 só, de âmbito mais alargado.

A História vindoura nos dirá se os sistemas nórdicos que todos integram se aguentam, se a sangria de refugiados de África pára e se os problemas entre Muçulmanos radicais e os Ocidentais tem uma solução, mas num caso positivo nunca será com guerra, xenofobia, segregação e apelos a sentimentos chauvinistas...

PS Comecei um novo projecto na blogosfera, apesar de não ser ainda o meu número a solo: www.vozesdeburros.blogspot.com