"As cruzadas vistas pelos Árabes" de Amin Maalouf
Baseada em escritos da altura que habitam regularmente a obra, surpreendeu-me pelo deja vu invertido ao qual não se consegue escapar. Uma civilização no seu apogeu cultural, a viver à sombra do seu império, que é atacada por um bando de bárbaros que pilham, matam e violam da Turquia ao Egipto durante 150 anos, em nome de uma religião.
A civilização árabe depois das cruzadas nunca mais foi a mesma, descendo até ao que é hoje. Os bárbaros saíram da Ásia e foram construir um domínio mundial que durou cerca de 500 anos. Uma das razões para a queda árabe apresentadas por Amin é a falta de humildade árabe em perceber que haviam, por parte dos bárbaros, aspectos que funcionavam melhor, como a sucessão no poder e a justiça para com as classes sociais, reduzidas a camponeses e artífices. As cruzadas apenas catalizaram uma queda inevitável.
A transposição destes acontecimentos para a situação actual é para cada um fazer, de preferência lendo a obra. Da minha troco algumas impressões. A linha separada entre as civilizações distintas traçada por uma e logo ripostada pela outra. A antagónica relação de valores e o não respeito pelos valores da outra. O recurso a armas como solução óbvia, enquanto o enquadramento das duas civilizações no mesmo espaço não só é difícil, mas também não desejado. A arrogância de ambas.
Vale a pena lerem. E quando se sentirem completamente identificados com os árabes e nada com os bárbaros, pensem na situação actual. E se a História se irá repetir.
1 comment:
Super interessante! Em quanto tempo é que devoraste o livro?
Post a Comment