Holanda
O choque é a abertura de espírito relativamente aos comportamentos julgados marginais pela sociedade, como são o consumo de drogas leves e a prostituição. Se me perguntarem agora, um mês depois de chegar, um adjectivo para caracterizar a sociedade portuguesa, a palavra conservadora nunca fez tanto sentido na minha cabeça.
Em Portugal estes problemas da sociedade são encarados de uma forma idealista. Não existem. Ou pelo menos, no que diz respeito às profissões e a substâncias legais não existem. Apenas existem de uma forma que leva a que quem os pratique seja penalizado. Na Holanda o problema é encarado de uma forma realista. Estes comportamentos marginais existem, qual a melhor forma de lidar com eles, aproveitá-los ao mesmo tempo, e torná-los seguros para quem os pratica.
A visão idealista leva à completa exclusão social dos transgressores, que por sua vez têm a tendência de se juntarem e formarem um grupo à parte de uma sociedade que simplesmente prefere ignorar que existem. Os comportamentos de risco abundam e a prevenção é quase inexistente, pois não há aceitação do problema, o que obrigatoriamente leva a que prevenção não faça sentido.
Se se encarar o problema realisticamente as ferramentas do estado entram em funcionamento, pois é visto como sendo parte da sociedade. O facto de se regulamentar a prostituição torna a prática muito menos arriscada. A distribuição das drogas leves já não é uma arma na mão de organizações criminosas. É uma receita fiscal dum sítio onde antes não havia senão despesa e crítica.
A questão é aceitar, ou não, que qualquer ser humano está sujeito a ter estes tipos de comportamento. Acreditar que fechando os olhos o problema desaparecerá por ele mesmo, ou aceitar que irá sempre existir nas sociedades de hoje. A partir do momento em que se aceitam como constantes do comportamento humano, que são, arranjar uma estratégia para minimizar os estragos, salvaguardar a humanidade de quem as pratica, e talvez tirar ainda partido monetariamente.
Esta última frase deve ser encarada com muito pragmatismo. O governo Sueco perante um grave problema de alcoolismo no seu país, proibiu a venda privada de álcool, formou um cadeia de lojas estatais onde este se vende a preços altos, e mesmo as discotecas lhes têm que comprar. O preço aumenta (prevenção) a qualidade é comprovada (muito vinho Português naquelas lojas) e o estado ganha (carga fiscal altíssima). O governo Sueco é hoje o maior comprador de vinho do mundo.
Escusado será enumerar as vantagens para os consumidores de drogas leves, para as meretrizes, e para o povo holandês que goza de um sistema de segurança social forte também pela contribuição destas actividades. Mas há algo inquietante nesta visão realista.
Nas ruas de Lisboa oferecem-me em sussuro haxixe. Nas de Amesterdão cocaína. Pela sua própria definição, não podem haver limites nos comportamentos considerados. Chego à conclusão que a real natureza humana é seguir para o próximo proibido.
Mas existem limites. Em França a prostituição também é legal. Desde que fora do centro das cidades. Um espectáculo de caravanas de todas as cores e feitios é garantido nas proximidades de qualquer grande cidade francesa. As drogas ditas pesadas são ilegais na Holanda, mas existem casas de chuto onde os toxicodependentes são assistidos para que os comportamentos de risco sejam minimizados.
A estes limites chamarei ideais de bom senso. É na realidade um sistema misto que existe nestes países. Mas a humanidade para com os que caem nas malhas desses comportamentos considerados marginais está sempre garantida.
Quando abrirmos os olhos, os problemas vão lá estar na mesma.
1 comment:
Fica aqui os pequenos passos que damos:
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1278296&sid=&highlight=casas%20de%20chuto%20em%20lisboa&web=VT
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