Pensem nos outros. É também isso a Democracia
Em França a minha chefe perguntou-me se o aborto ainda era penalizado em Portugal. Quando lhe disse que sim abanou a cabeça e comentou com quem estava ao lado o horror que deveria ser, ser-se mulher em Portugal. Senti-me mal. Porque quando fazemos algo mal existem soluções, nem que seja culpar-nos. Quando é a nossa sociedade a fazer, só podemos abanar a cabeça e aceitar o desdém dos outros.
Abriu-me os olhos. O aborto não é tanto a questão da vida, conceito de início que cada um adianta ou atrasa consoante as reivindicações. É uma questão de direitos da Mulher. Este é o assunto principal que é completamente menosprezado na discussão feita pela sociedade Portuguesa.
Em 74 enquanto caminhávamos na Democracia, milhares de mulheres manifestavam-se em frente ao parlamento Francês e obrigavam-no a fazer passar a lei. Hoje é comparticipado pelo estado. Na condenação da minha chefe senti o preconceito de país subdesenvolvido a tornar-se conceito. Vejam a lista de países em que se pode fazer… e a lista onde é proibido.
Não é nada de inovador. Pode-se sempre olhar para qualquer outro país europeu e ver o resultado. São tantos, podem escolher qualquer um. Avalie-se o resultado nessas sociedades. Já foram parar ao Inferno? Qual a taxa de mortalidade entre a mulheres devido a aborto? O índice de igualdade entre homens e mulheres? O sexo foi banalizado? Mais do que em Portugal?
A responsabilização das pessoas pelos seus actos que é apregoada no caso é um grande cinismo. Numa matéria que provém da ignorância sobre sexo, é incrível que se penalize algo sem se dar a educação necessária. Nem todos têm bons educadores em casa. Nessas Gomorras espalhadas pela Europa não morrem mulheres em garagens e a educação sexual existe mesmo.
Eu não quero que os comentários a este post se tornem numa chuva de argumentos. Passei metade da minha vida a ouvi-los. Para mim um chega.
Por favor, se não concordarem não o façam. Mas permitam aos casais que o escolhem, a possibilidade da mulher o fazer nas melhores condições médicas possíveis. É só isso que peço. E irão sempre haver casais a preferir essa via. Pensem nos outros. É também isso a Democracia.
4 comments:
My friend, estou totalmente de acordo com o último parágrafo, todavia, o que hoje se discute não é a despenalização... é o alargamento do prazo... sabendo que este é aceite em determinadas situações. Nesta história toda será a mulher a vítima? ou toda a gente se esquece que, com aquela idade, ja havia ali um ser vivo? Ao vivo, e à sombra de uma jola, discutiremos decerto melhor... aquele abc
Bravo pelo post. "Baas in mijn eigen buik",ou "dona do meu corpo", disseram também as holandesas nos anos sessenta. Não acrescento mais nada, a tua argumentaçao é perfeita.Sofia
Não podia deixar de estar de acordo... A única diferença entre o que se passa em Portugal e nos outros países europeus é que cá os que podem vão a Espanha, os que não, ficam às mãos de pessoas sem a qualificação adequada.
Mas desconfio que ainda não vai ser desta que conseguimos mudar esta lei...
Mudei de ideias... afinal ESTE é que é o grande post que adorei :)
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