Sunday, December 10, 2006

Lição de vida

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A conclusão final da história apagará muitos dos julgamentos que farão pelo meio. Conheci-os numa das viagens que fiz, ao encontro de um amigo perdido pela Europa. Nestes encontros, o desencontro inicial é muito temido sem morada ou número de telefone que nos valha no caso. Um blind email date, cujo falhanço significa ir procurar um quarto de hotel para passar a noite. Quando finalmente chegou, o nervosismo era patente e apesar de não o ter visto por uns tempos, perguntar foi normal. Coisas do coração. Mas tuas? Não pá, dois dos meus melhores amigos.

Já habitava na cidade quando ela apareceu, tinham o país de origem como assunto comum. Na primeira e única noite que estiveram juntos não a conhecia. No fim ela falou-lhe do namorado que tinha deixado no país. Se quando um ser humano se sente invisível, a sua moralidade desaparece, tal não foi o caso. E pensem por vocês, se se soubessem livres de julgamento, quão moral seria o vosso comportamento. O que aconteceu foi um erro. Não quero que torne acontecer. O interlocutor desta frase poderia ser qualquer um deles.

Quando aterrou na grande cidade vinha com mil esperanças. A namorada que o esperava, a vida a dois que iria finalmente partilhar, estava na Meca do que estudou, ia aprender e ganhar a experiência que todos os corações jovens procuram. De facto ela esperava-o, com o mesmo sentimento que tinha quando fez a mesma viagem. Alugaram uma casa numa zona de copos da cidade. Com os olhos maiores que a barriga, aquele espaço vazio na casa cedo precisaria de mais uma carteira para ajudar a pagar a renda.

Eu conheço um tipo porreiro que também está a precisar de casa. Ele nasceu onde nós nascemos, é um porreiro, e acho-o muito boa pessoa. Nada poderia estar mais certo, pensava o nosso último viajante uns meses depois. Tornaram-se melhores amigos, não faziam nada um sem o outro. A casa estava sempre em festa, e o coração dos três também. Mas o tempo dos expatriados tem sempre uma dimensão própria. O que se vive é vivido ao máximo, simplesmente porque tem um fim. Pensassem as pessoas igualmente sobre a vida, e haveria muitos mais sorrisos à nossa volta. Ela tinha que partir.

Tinha ela um amigo. Não agora que ia partir, já se tinham zangado. Mas teve-o durante a sua estadia na cidade. Daqueles amigos a quem se conta tudo. Seja lá o que isso for. Como Murphy em prática, a zanga levou à denúncia no dia seguinte à partida feminina, que logo coincidiu com a chegada deste vosso à grande cidade. Estava o meu amigo preocupado em fazer malabarismo entre me acolher bem, e manter os dois melhores amigos longe um ao outro, quando antes era impossível separá-los.

Quando a cabeça quente dá lugar à fria fazemos o mais inútil dos exercícios. Reagimos outra vez, agora sozinhos e sem qualquer efeito, porque já passou o momento. Mas o nosso último viajante pensava para ele próprio. O namoro não faz sentido, isso é certo. Mas e a amizade? Se se pode confiar em quem me escondeu tudo isto, qual a razão para acabar a amizade? Quão diferente agiria eu nas mesmas condições?

Foi um dos melhores fins de semana que tive. Os tipos reconciliaram o melhor que cada um tinha no mundo. E nós acompanhámos o processo. As últimas que tive, andavam os dois por Portugal a acompanhar o meu anfitrião, exactamente como eram dantes. Simplesmente melhores amigos. Perceberão agora não haver lugar a julgamentos perante um perdão desta dimensão. Como se pode julgar alguém mais nobre que nós próprios.

1 comment:

NoKas said...

Amigos, namoros, vidas... começo a achar que qualquer pessoa é potencialmente candidata a argumentista de novelas mexicanas...ou romances à lá Eça de Queiroz!

Mas viva a amizade que supera tudo! :)