Berlim
A História mais próxima, aquela que vemos nos filmes, da qual mais livros falam, está presente em todos os cantos de Berlim. A sobreposição histórica em cada praça, monumento, edifício, deixa a cabeça a rodar de quem escuta qual a sua função ou significado para nazis, comunistas, ou habitantes de Berlim Ocidental. É uma capital europeia onde ainda se nota bem os vestígios do passado, nos semáforos, nos prédios, na construcção. Uma Paris sofredora foi no primeiro instinto, a comparação que me veio à cabeça. No século passado foi a cidade que mais viu e viveu, e oferece isso mesmo hoje em dia. É, porventura, a cidade Europeia mais interessante de se visitar, ou pelo menos, para os fanáticos de uma qualquer outra, aquela que mais tem para oferecer.
Em Tallin, também pertencente ao antigo bloco de Leste, e ficando em casa de locais, ninguém me falou no passado. Como se fosse algo que tivesse menos probabilidade de tornar a acontecer quanto menos nisso se falasse. Em Berlim, não. Estigmatizados ou não, a desobra do passado, nazi ou comunista, é falada em cada canto. Mas os memoriais não dizem nada. São obras vazias de letras, mas cheias de significado. Tal como a cidade que as alberga.
Aproveito para vos apresentar o Ivo, a Anocas não deverá ser estranha de ninguém. Os casal holandês, estudantes em Amesterdão, participavam na corrida até Berlim à boleia organizada pela sua associação de estudantes, “The Fuck Easter Race”.
As estradas alemãs não têm velocidade máxima.
As portas de Brandenburgo na praça Paris. Por aqui marchou Napoleão e as tropas de Hitler para a revista... e Michael Jackson abanou o rebento.
Reichstag. O parlamento alemão tem uma cúpula transparente onde qualquer um pode passar. Por debaixo os deputados fazem o seu trabalho, sempre abaixo daqueles que se passeiam por cima das suas cabeças, o povo.
Enquanto se deburrava o resto que havia do muro, foram descobertas as câmaras de tortura das SS e da Gestapo. Hoje dá lugar a uma exposição, a “Topografia dos Horrores”, explicando a subida ao poder e as atrocidades nazis. Na fotografia abaixo podem ver o que queria dizer com sobreposição histórica.
Em Oranienburgerstrasse no meio de restaurantes finos e prostitutas, e um pouco espalhado pela cidade, as comunidades squatters criaram galerias de arte urbana. Os edifícios abandonados aquando da queda do muro deram azo a que a mentalidade aberta de Berlim dos anos 20 tornasse a aparecer.
Juan e Javier que me fizeram, por minutos, voltar à viagem da minha vida.
Monumento às vítimas judaicas do Holocausto. Inspirado no cemitério judeu de Praga, mais de 2000 blocos de pedra com a mesma largura e cumprimento apresentam-se a diferentes alturas. Significados à parte, apenas a minha impressão, é impossível andar lado a lado com outra pessoa. Quando a altura dos blocos se eleva bem acima da nossa cabeça, a luz começa a faltar, as pessoas com quem estavamos não estão ao nosso lado, o passo apressa-se e o coração bate mais depressa até a nossa cabeça voltar a passar o nível das pedras. Mas quem aqui entra pode sair por vontade própria.
Na antiga sede da aviação Nazi, depois ministério comunista. O mural comunista na parede, mostrando a felicidade do trabalho em comunidade, e no chão, as caras dos massacrados em 1953, no primeiro protesto contra a política comunista. Os líderes da RDA enfiaram-se na cave do edifício e chamaram o protector russo, que acabou com o protesto. Digno de nota também, o facto da sede não ter sido destruída pelo bombardeamento britânico, assim como não o foi a sede britânica em Londres aquando dos bombardeamentos alemães, para os teóricos das conspirações. É hoje um dos edifícios mais representativos da arquitectura nazi.
A mãe segurando o seu filho morto. A artista passou pelo mesmo duas vezes e viu a sua vida destruída pelos nazis. A estátua é o monumento aos mortos nas guerras da Alemanha. Apesar de não estar referenciado, por debaixo da estátua estão os corpos não identificados de um soldado alemão e de uma vítima judaica de um campo de concentração. Por cima o céu aberto, quando neva, chove, a estátua fica coberta pelos elementos.
Acreditem que muito ficou por contar. E infelizmente, por ver. Dá-me, ao menos, a certeza que voltarei.
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