Sunday, October 16, 2005

Solidão


Não sei descrever a solidão. Para além da óbvia definição. Nunca soube adjectivar, expandir um raciocínio. Também nunca passei por ela. Toda a minha vida estive sózinho quanto tempo quis. Bastava pegar no telefone e acabava a minha solidão. Os momentos a sós comigo próprio eram muito bem vistos... talvez porque sabia que a controlava...
Hoje em dia sou forçado a passar por ela. Não a controlo. Também vos digo que continuo sem saber falar sobre a solidão. Acredito que haja muitos tipos de, por vezes podemos estar rodeados de pessoas e sentirmo-nos tão sózinhos. Às vezes estamos sózinhos porque só a nós nos cabe um papel. Maior parte das vezes acho que somos nós que a procuramos... que achamos que o melhor caminho não tem espaço para mais gente.
Dou por mim a falar sózinho muitas vezes. Digo-vos isto numa perspectiva de graça. É sempre um sorriso que aparece quando vejo que me estou a comportar como um maluco. Encaro isso de forma natural... não vejo outro eu pela sala, a falar do dia-a-dia comigo, se é isso que estão a pensar.
Aumentam as ausências, momentos em que perdemos contacto com o que está à volta, e estamos tão embrenhados num raciocínio qualquer, que quando voltamos à realidade, sentimo-nos a acordar no meio de um sonho. Voçês sabem do que falo...
Começamos a conhecer melhor o espaço físico que nos rodeia, onde vivemos. Conhecemos cada mancha ou ponto escuro na parede de cor. Sabemos o tempo exacto que demora a fazer o cozinhado que fazemos mais vezes... Acabamos com todos os relógios de ponteiros, que são os maiores assassinos durante as alturas mais complicadas.
Tornamo-nos mais sensíveis ao contacto das pessoas de quem gostamos, mesmo aquelas que sempre achámos estranhas aparecem como interessantíssimas aos olhos solitários. Somos... prostitutas de conversa. Sim, riam-se, mas foi o mais semelhante que encontrei.
Não sei falar sobre solidão em si, mas sei o que sinto ao passar por ela. Também tem coisas boas. Mas não pensem que o sonho romântico de fazer o que se quer, quando se quer, chega. É bom ao princípio, como quando pára de chover, mas passado algum tempo, o poder fazer tudo não preenche o vazio.
A liberdade não mata a solidão. Podemos ser os seres mais livres do mundo, mas a solidão não é uma prisão da qual a liberdade nos tira.
Tal como não consigo falar acerca da solidão, não consigo sistematizar uma solução. Acho que a resposta está dentro de cada um. Sei o que se passa comigo. Ganha-se uma força e vontade para se dinamizar o tempo, estar sempre ocupado, desde correr, ler um livro, ir ao cinema... escrever um blog.
Aprende-se a viver sózinho, descobrem-se coisas que se gosta de fazer, que antes nunca tínhamos tempo, fala-se com pessoas das quais antes fugiríamos, fazem-se coisas que deixem um sorriso na nossa cara, e na dos outros se possível... A visão de uma montanha torna-se uma imagem repetida na nossa mente, a vontade de ver os amigos, que antes era mais um passo do dia-a-dia, torna os reencontros repletos de emoção e de amizade verdadeira.
Dá-se o devido valor a coisas que antes desprezávamos... e vê-se o quão fútil fomos ao apreciar outras.
Eu resolvi encarar a solidão, pela qual passo no momento, como uma benesse. Uma maneira de me tornar melhor. Encarar os meus medos, as minhas falhas, como entidades corrigíveis.
A minha receita para a solidão... Se estivermos bem connosco próprios, estaremos sempre bem, qualquer boa companhia será apenas um acrescendo a um estado, já por si... feliz.

2 comments:

Anonymous said...

Por muito boa companhoia q sejas, ao fim de 24h já n estás farto de ti msm e de concordares com tudo o q tu próprio pensas? Estar sozinho é uma coisa magnífica quando não nos é imposta, mas quando é só tu podes lutar contra a solidão! Quando te fartares de ti diz q nós mandamos-te livros e dvd's numa língua não bárbara como o françês ,)

Anonymous said...

Compreendo o teu sentimento em relação à solidão. Por vezes é um estado de graça, que nos proporciona largos minutos fantásticos, mas por outro lado, quando "obrigados" a vive-la, é um estado de espirito medonho, triste e muito confuso. Eu sei o que é viver nessas duas vertentes, mas já não me lembro de ter prazer na solidão, aliás um dos maiores pavores que tenho agora é a solidão.