Thursday, January 26, 2006

O Futuro?



Para se julgar o resultado das eleições Palestinianas, tem que se perceber o contexto em que foram convocadas. Mahmoud Abbas, Presidente da Autoridade Palestiniana teve uma visão que poucos têm quando se está no poder. O sucessor de Arafat atravessa os problemas de quem substitui uma figura da qual dependia um estado. Desaparece o símbolo, perde-se o respeito.

Um ano depois de ter assumido a Presidência, Mahmoud Abbas percebeu que o movimento do Hamas se tornava cada vez mais forte. Com vinte anos de idade, este movimento pauta pela destruição do estado de Israel, como única forma de acabar com ocupação Israelita da Palestina. Responsável por vários atentados suicidas contra Israel durante os últimos anos, participou pela primeira vez como partido numas eleições locais, e os resultados fizeram com que o sonho se expandisse.

Vendo a adesão que o movimento estava a ter, e sentindo o descontentamento dos Palestinianos perante a falta de resultados nas negociações durante este último ano, sem nada para oferecer ao povo, Mahmoud Abbas tenta uma jogada arriscada. O Hamas tem, segundo se diz, um exército bem armado de cerca de 5000 homens. Vendo o crescer do movimento, caso continuasse clandestino, e o povo continuasse a apoiar, a situação poderia tornar-se catastrófica, com um cenário de um golpe de estado. E aí, a situação seria realmente incontrolável.

Mahmoud Abbas convoca eleições, sofrendo contestações internas do seu partido, a Fatah. O que ele tenta com esta jogada, é através da democracia activa, moderar as posições do grupo radical. Um exemplo. Quando Lula é eleito, algumas das suas promessas, que fazia à mais de 15 anos, acabaram na gaveta. Isto porque, ao ter o poder, e usando o bom senso, vê que faria mais mal que bem ao país. Claro que isto é um paradoxo. Uma pessoa é eleita por defender acções que na prática são impossíveis. Logo, enganou-se a ele e a quem votou nele. Mas acaba por ser a sua responsabilidade política adquirida que o faz ver, que de facto não é bom para o país ir por certo caminho.

Isto funciona para um fundamentalista de valores humanos, mas não necessariamente para um fundamentalista religioso. Essa é a segunda maior diferença entre os dois casos. A maior é que no caso Palestiniano, o estado vive numa situação que a todo o momento incita à revolta, à mudança, sentindo-se ocupados por uma entidade estrangeira.

Foi bem arriscada, e os resultados são imprevisíveis. Penso que Mahmoud Abbas acharia que as eleições iriam ditar a repartição de poderes entre a Fatah e o Hamas no parlamento, e assim as decisões ficariam creditadas pelas partes mais representativas do povo. As duas visões poderiam trabalhar em conjunto, em democracia activa, para que as melhores decisões fossem tomadas.

O Hamas ganhou as eleições com maioria absoluta no parlamento, o governo, liderado pela Fatah demitiu-se, Bush vem dizer que os resultados são demonstrativos que a actual direcção da Autoridade Palestiniana está a fazer um mau trabalho, num ataque directo a Mahmoud Abbas, e Israel diz que não manterá conversações de qualquer género com uma organização terrorista, como o Hamas é considerado por Israel, EUA e os países Europeus.

Claramente o Hamas não tem maturidade política, nem o respeito internacional para governar com maioria absoluta. A questão é saber quem mais vai entrar em cena. Em termos geopolíticos Israel está isolado, e neste futuro acredito que seja impossível prever seja o que for.

1 comment:

Anonymous said...

isto era apenas uma questao de tempo e oportunidade para o hamas se candidatar. era obvio que iriam ganhar as eleiçoes face ao apoio da populaçao, a questao era se teriam uma vitoria esmagadora ou nao. o apoio que conseguem obter da populaçao esta relacionado com 20 anos nao de terrorismo mas de ajuda humanitaria às populaçoes (há aqui uma dualidade muito interessante entre ajuda a um povo e o terrorismo - com as consequencias que tem trazido ao povo).
trata-se de uma realidade muito complexa que eu nunca consegui ou conseguirei entender.
obviamente que o futuro dirá qual o verdadeiro resultado destas eleiçoes - e para mim o futuro desta gente nao é nada brilhante, mas é assim em democracia.

vitor