O "orgulho" francês, que faz este país grande
Vindo de um país em que sempre conheci 3 anos de trabalho precário, em que actualmente vigoram 6 anos, sem limite de idade, sempre vi a situação francesa mais como um privilégio, do que como um direito.
O trabalho precário aqui resume-se a um mês e meio. Após este tempo, a pessoa assina um contrato a tempo indeterminado ou vai para outro lado. A nova lei, aumenta este tempo para três anos, à nossa imagem anterior, mas tem um limite de 26 anos, ou seja, para quem estiver acima desta idade, o sistema mantém-se o mesmo que o actual. A verdade é que se comparada com a nossa situação, a actual francesa é um paraíso, e a nova não estará muito abaixo.
A hipocrisia na situação, está no facto de as empresas crescerem de ano para ano, sem o CPE (Contrato Primeiro Emprego). O que a sociedade francesa reclama é uma repartição dos lucros empresariais entre os accionistas e o investimento na própria empresa. Antes era maioritariamente investido, criando empregos, enquanto que agora vai para o bolso dos accionistas. O problema tem as suas raízes na questão do globalismo com uma grande parte dos accionistas a serem estrangeiros. E uma mentalidade no país de orgulho no conseguido pelo mesmo.
Mas a questão terá um fundo mais importante. Desde que cheguei que ouço os franceses a dizerem que a Democracia não funciona, que faltam objectivos ao país. Reparem, nos últimos 90 anos, a França sempre teve objectivos bem precisos, as duas guerras, a construção de uma Europa unificada. Nos tempos que correm faltam objectivos às pessoas, algo em que ter esse imenso orgulho francês. A nós não nos toca, na minha curta vida nunca vi uma grande mobilização à volta de nada, sem ser o Benfica. Acreditem que é difícil perceber este ponto de vista.
Com o desejo de lutar por algo, sem o haver, qualquer diferença que se possa fazer, é feita com toda a paixão e com um espírito de luta imenso. Os franceses têm uma herança pesada e não querem ser menos que os seus antepassados. É este o efeito do orgulho francês, é isto que os faz sair à rua, é isto que os faz cidadãos tão activos.
Quando cheguei conheci uma personagem interessante. Dizia-me ela, mais ou menos por estas palavras:
“Porquê ficar num país que não tem objectivos? Como será saber que tudo o que faço é para mim, e a sociedade nada ganha, nada evolui com isso… nada fica melhor, que és um peso morto na sociedade, que o que viste quando acordaste para o mundo é igual ao que vais ver quando o caixão se fechar.”
Digo-vos, para além da diferença linguística, ela não vai poder ver este post… o país em que está tem Internet somente em 8% das casas privadas. Lá fará toda a diferença.
3 comments:
Para mim o melhor post que já escreveste... Vive la france ;)
Sempre invejei os franceses pela paixão que demonstram na luta pela justiça e pela liberté, égalité et fraternité. Quando lhes pisam os calos, não estão com meias medidas: vão para a rua e são capazes de deitar abaixo um governo, se fôr preciso. É pena não aprendermos um pouco com eles, não achas? Estamos sempre acomodados, e engulimos tudo.
Claro que o reverso da medalha, é serem arrogantes e orgulhosos como são, mas se tivesse o sangue na guelra deles, também eu era!
Beijo grande!
um modo muito diferente (do nosso) de ver as coisas.
qd ca se deu a transiçao para os 6 anos e, qd se começa a falar em acabar com esta lei "demasiado restritiva" e passar a liberalizar completamente os contratos sem limite de anos... há pessoal que faz grandes festas, a maioria cala e, como nao podia deixar de ser, lá vao os do costume fazer ou pelo menos tentar fazer barulho.
é assim este nosso pais.
abraço
vitor
PS.: qd começar o cerco a Paris, nao penses duas vezes... vai logo para lá LOL
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