Um título que diz tudo
Hoje foi lançado pelo antropólogo Paulo Granjo um livro de título “Trabalhamos sobre um barril de Pólvora”. Trata-se de um estudo feito às refinarias portuguesas, onde se vai parar as questões de segurança no trabalho. Procurar a antropologia na questão, será um esforço inútil, assim como procurar as qualificações do tipo, acreditem que sou mesmo a favor da multidisciplinaridade… desde que se saiba do que se fala.
A minha falta de credibilidade no tipo vem aquando do acidente numa linha de enchimento em Leça. O tipo, que devia estar a meio do doutoramento, veio para o Expresso dizer que a Refinaria do Porto só tinha equipamentos velhos, que devia ser fechada e que os operadores tiveram o descaramento de continuar a bombar produto, enquanto o incêndio lavrava.
Ora, tanto o acidente foi um erro de Operação (equipamentos tudo fino), como continuar a bombar o produto é o procedimento de segurança a ser efectuado. Digo-vos que a partir daí a minha confiança na isenção do doutorando ficou abalada. Hoje enviaram-me esta notícia e não pude de deixar de a ler.
Eu não sou ninguém para discutir uma tese de doutoramento. Mas também não as considero todas verdades absolutas. A minha empresa está neste momento a fazer um projecto para uma empresa Sul-Africana. Não é a referida na notícia, mas as políticas de segurança são semelhantes. Agora, existe uma grande diferença entre Galp e essas empresas. O exemplo daquela que falo, produz plástico a partir de carvão cuja exploração é feita pela própria empresa, ao lado da Petroquímica. Isso quer dizer que a matéria-prima lhes custa o preço de extracção, nada mais. A Galp e qualquer outra refinaria irão sempre comprar a outros a sua matéria-prima, cujo preço será dado pelo mercado. Permitem-se estas duplas licenças, com a contrapartida de uma cultura de segurança.
Basicamente, o custo de uma segurança mais apertada do que por exemplo, as normas Europeias, respeitadas pela Galp, resultam num custo para o consumidor pois não existe outro sítio para ir buscar o dinheiro. A segurança paga-se, e é dos dinheiros mais bem gastos que podem haver. Agora, o consumidor está preparado para pagar isso, isto é, medidas de segurança acima das Normas Europeias?
Já houveram acidentes em refinarias que as respeitam, acidentes acontecem, é o preço do nosso estilo de vida, quem vai deixar de ter o seu carro abastecido…
Há acidentes que acontecem seja qual for o investimento feito em Segurança. Há refinarias a operar no mundo em que a palavra segurança corresponde a um encolher de ombros. É por isso que foi criado um meio termo a ser respeitado na Europa, ir além disso representa um custo acrescentado e uma probabilidade de acidente menor. A Galp respeita as normas em vigor, como o próprio Paulo Granjo diz.
O tipo denuncia as horas a mais, dos operários, de forma a produzir-se mais e ter menos custos. Os hábitos e rotinas, não conheço os das outras refinarias, mas calculo que pelas nossas, bem à portuguesa, bastante possa ser melhorado. Mas não com “barris de pólvora” pelo meio…
Chamar um estudo sobre o trabalho de operários nas refinarias, as subcontratações, seja o que for, de “Trabalhamos sobre um barril de Pólvora”, diz-me a mim que existe um objectivo diferente do que ajudar a melhorar as condições de trabalho dos operários. Com outro nome, provavelmente não aparecia no Correio da Manhã.
A propósito, o Enxofre nas condições atmosféricas normais é sólido, pelo que me arrepiou ler que esteve a ser enviado durante 6 meses para a atmosfera na forma de gás. Sem malícia mas… junta-se um antropólogo e um jornalista do Correio da Manhã a falar de refinarias e voilá… o Enxofre em condições atmosféricas é um gás.
2 comments:
Um gás! Cor-de-rosa por certo, e com um agradável cheiro a farturas.
A ignorância é uma coisa linda, o pior é quando cai nas mãos de um jornal que nem apelidaria de sensacionalista, é mesmo alarmista.
A unidade em não-funcionamento que ele refere devia ser a lavagem com aminas, suspeito. Nada de mal ao mundo, até vai ajudar a fertilizar os campos em redor assim (não, não estou a brincar...).
Esse "doutor" deveria voltar a escrever teses sobre aquilo que efectivamente sabe, estou em crer, porque de processos percebe isto --> 0 (zero).
Não vou aqui discutir engenharia nem "raffinage" mas o que o tipo disse está mais ou menos correcto.
Ninguem é maluco ao ponto de enviar H2S para a atmosfera e tambem não os estou a ver a stocar 6 meses de produção. Cá para mim eles usam-no como gás de combustão e emitem SO2 ou SO3. O truque que eles fazem é diluir a sua emissão no tempo para respeitar as normas de emissão (severamente controladas). Outra alternativa é comprar crude quase sem enxofre, como o Venezuelian Light Oil... não tou a ver os tipos portugueses (desenrascados) a ficarem agarrados ao enxofre.
Em termos de semântica, enviar SOx para a atmospera é de facto enviar enxofre para o ciclo da água e similares. Se fosse enxofre elementar, o tipo teria-o precisado.
Nota de fim: ó André, os elementos da TP são substantivos comuns, logo escrevem-se com minusculas.
Abraço
Victor
PS: keep up the EXCELENT blog!
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