Banho Francês
A primeira vez em França, foi numa Primavera. Paris estava linda e eu desmistificava todos aqueles preconceitos sobre os franceses. Todos menos um. O Metro.
Não era bem o Metro, mas antes a atmosfera lá criada pelo preconceito do banho francês. O preconceito é básico e todos os conhecem, que os hábitos de higiene franceses pecam na sua repetição. E assim essa imagem ficou na minha cabeça até chegar a Lyon.
A minha chegada aqui foi no pico do Verão. Uma planície entre montanhas, Lyon é uma frigideira ao sol. Imaginam a minha descida para a obrigatória viagem de Metro. Senti-me Dante à espera dos fumos sulfurosos. Mas nada… nenhum cheiro sacana, nada que me fizesse lembrar Paris. Na primeira viagem a Portugal propaguei a informação, disse que já não era nada assim, os tipos tomavam o seu banho indispensável ao bem-estar de quem está ao seu lado no Metro. Ainda não tinha vindo a Primavera…
O Inverno deve travar o número de banhos em água normal. Quando vem o calor, estes tipos, em vez de aumentar a conta da água, aumentam a conta do perfume. De manhã saio tonto do Metro, com todas as flores silvestres, alfazemas, colónias, e perdoem-me mas não encontro mais ingredientes de perfumes. Mas qualquer um que exista estará no Metro de Lyon das 8 às 10 da manhã.
Mas o pior… o pior é o final da tarde. Adjectivar o ambiente respirável no Metro em hora de ponta é tarefa para Suskind no “Perfume”. Aliás, aposto que a ideia de escrever o livro foi tida num Metro francês durante uma Primavera. O cheiro é uma mistura daquele ranço humano, com as mesmas flores silvestres da manhã, mas agora murchas, como aquelas águas paradas ao sol.
A favor destes tipos, tenho a dizer que é só nesta época do ano. Mas a verdade é que, como se diz à boca pequena, o “banho francês” não é em água, mas sim em perfume. Apesar de não ser certo, terá sido por estas bandas que o conceito de perfume foi inventado como substância líquida perfumada. Talvez esta semana seja a do orgulho no perfume e ninguém tome banho e só ponha perfume. Não sei. Sei que estou a ficar com umas pernas como o ciclista das “Triplettes de Belleville”.
2 comments:
AHHAHAHHAHAHHAHAHHA
Em primeiro lugar... Adivinha quem inventou o bidé...? Palavra tão tipicamente francesa... LINDA! Eu pergunto-me é se utilizam a "invenção que inventaram"! (Rica frase).
Em segundo... Claro que os grandes produtores de perfumes são eles... O que ainda não perceberam foi que o perfume não disfarça maus cheiros... Alguém vai ter que os esclarecer...
Em terceiro, Triplettes de Belleville RULES e o cão é um must, sempre a ladrar ao comboio!
Também devem ter inventado o "douche" (pelo menos é afrancesado), mas dessa invenção já não querem eles saber...
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