Monday, May 05, 2008

Padre Manuel Antunes



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Para a geração pós-25 de Abril o que se passou em Portugal após o golpe nunca foi bem claro. Temos bem noção da luta que exigiu bloquear o golpe da esquerda, temos noção que vinham Belgas e Franceses a Portugal fazer turismo de revolução. “Andava-se na rua, e de repente, uma pessoa subia a um banco da rua e começava a discursar. Havia quem aplaudisse, havia quem apupasse, mas sempre com o respeito pelo outro bem saliente.”Sabemos que estas lindas e únicas imagens revolucionárias só foram possíveis em Portugal, apesar de irmos ouvindo aqui e ali, que fora de Lisboa as coisas não foram assim tão joviais e bonitas como se descreve. Sei que houveram muitos casamentos nove meses depois, sei também que alguns perderam muito, enquanto muitos ganharam muitas oportunidades. Sei que nas faculdades quase não se avaliou ninguém e todos passaram. Sei que foi uma revolução, nunca nada é igual depois, e o resultado final foi incomparavelmente melhor que o anterior.

Mas o que me tenho apercebido, é que, essencialmente, o 25 Abril foi uma oportunidade perdida. Foi uma tábua rasa, mas o povo, quem nela escreveu, escreveu com todos os defeitos que ainda hoje arbitramos como normais do nosso povo. Foi a ler o Padre Manuel Antunes que me apercebi disso, e como trinta anos depois destes textos, a luz que apontava está à mesma distância. “Despartidarizar, desburocratizar, desnacionalizar e descentralizar o estado”.

Quem me conhece sabe que a primeira me toca especialmente. A palavra original era "Desclientalizar", mas o próprio Manuel Antunes a descreveu como sendo essencialmente "Despartidarizar" o aparelho do estado.

Lendo P. Manuel Antunes percebemos a necessidade de ter um quadro de valores para a Democracia funcionar, sejam da igreja que advogava, sejam simplesmente porque tiveram uma educação que isso vos proporcionou. A tal fraternidade que também é parte da nossa Democracia, mas raramente lhe é dada importância.

Foi professor dos meus pais na Universidade de Letras em Lisboa. Deixou-lhes uma marca que vi nos seus olhos quando falavam dele. Nunca vi ninguém a sistematizar tão bem o caminho que Portugal deve seguir. Mesmo que já se tenham passado trinta anos.

Foi assim que passei o 25 de Abril. Já o 24 à noite foi passado no Carmo a ouvir cantar o que esperava ser mais típico e menos cubano. Sincero, fez-me falta um Grândola.

1 comment:

(Paulo Granjo) said...

Viva, homem! Até que enfim lhe reencontro o rasto (o computador da altura em que trocámos uns comentários e mails deu há muito a alma ao criador, e o Yahoo é quase impossível de abrir a partir de Moçambique...)!

Só por um grande esforço de vontade não fiquei invejoso da viagem que aí aparece em fotos...

Entretanto, anda lá pelo blog uma tertúlia sobre o "risco" em que talvez lhe apeteça participar. É em http://antropocoiso.blogspot.com/2008/05/risco-em-debate.html

Será bem-vindo.